Se em 73 a cada novo estado visitado pela peça
era necessário realizar uma apresentação para os censores
e estes nunca censuraram a peça,
de outro lado retiravam a subvenção estatal.
Não precisava censurar,
bastava retirar o dinheiro.
A vitória da censura
é se impor de forma que pareça
uma força da natureza
como a gravidade
ou a passagem do tempo.
Mas ela existe, sutilmente aprofundada
e enraizada em nossas relações pessoais
e artísticas.
De modo quase invisível
porém extremamente perceptível,
ou como diz Carla Ferro
“a coisa vai ficando cada vez mais difícil de explicar
e mais fácil de perceber.”
Ela existe
e justamente porque ela existe
nosso grito é em cada movimento,
um atestado de nossa liberdade de criação cerceada,
a fotografia dessa limitação que nos foi imposta.
É talvez por isso que aprendi que meu grito
ou minha fala
não ecoam, porque estamos distantes.
Por isso, hoje, tudo que digo é em Ióiku
– língua canto que evoca a esperança
capaz de dar força material ao sonho.
Já é hora.
Memória e imaginação são inseparáveis,
me contaram.
Fomos todos deformados irremediavelmente?
Por que somos peixes criados em cativeiro?
Se pudéssemos nadar livres meus amores,
e eu os amo tanto… tanto…
seria bom não seria?
Nos cheiraríamos,
nos re-conheceríamos,
pois desconectados de toda luta,
de toda briga,
e de toda fuga das lutas e das brigas,
o que fica?